Dúvidas...

- Muito bom o filme, né?

- Ótimo! Os três estavam ótimos!

- Pois é, no fim o padre tinha culpa mesmo. E eu acho que ele tinha um caso com a irmã Filomena...

- É irmã Alloysius, e claro que eles não tinham caso nenhum!

- Eu pesquei isso em algum momento do filme, minha interpretação...

- Pensou errado. Não tinham caso nenhum. Ela estava questionando os dogmas da igreja no final.
* * * *

- E aquela hora do papo da mãe do moleque com a irmã, o cinema todo tenso, e nós dois rindo como dois idiotas??

- Claro, que nojo o ranho saindo do nariz da mulher e ela engolindo!

- Muito nojo mesmo! Será que só a gente percebe essas coisas??

- HA HA HA Acho que sim!

* * * *

- Mudando de assunto, sabe aquele seu medo de bonecas?

- Claro que sei! Quando era pequena tinha que tirar algumas do quarto para poder dormir.

- Então, li em algum lugar que os espíritos de bebês e crianças inconformados com a morte se apoderam das bonecas...

- Ai que besteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeira!!!!!!!! HA HA HA HA Onde você leu essa merda???
- Na internet, vou te mostrar...

- Ah, mas vai mesmo!! Nunca ouvi uma idiotice tão grande! HA HA HA HA

- Pensa, até que faz sentido...

- Não faz não, não faz NENHUM sentido! E se for assim, os espíritos também se apoderam dos quadros, tem alguns que dão muito medo.

- Claro, mas é isso mesmo!

- HA HA HA HA HA HA HA....

- Quando eu era criança, tinha um quadro na sala de um homem perto de um trem. Ele parecia aquele homem verde com um queixo enorme...

- Que homem verde com queixo enorme???

- O Dick Vigarista.

- Ele não é homem, é desenho animado! E acho que não é verde!

- Bom, eu sonhava que ele me sequestrava, e como eu tinha dois ou três anos e não tinha noções sobre o corpo humano, uma vez sonhei que ele me cortava em 2 e eu tinha um monte de carne moída dentro do meu corpo.

- Tá, cheguei. Beijos, até amanhã.

- Tchau, ainda tenho que caminhar mais um pouco.


Naquele noite, falecia o Clodovil. No dia seguinte, por MSN...


- Olha o link da matéria sobre o assédio dos espíritos nas bonecas.

- Quanta merda!! Essa "matéria" fala até sobre a boneca da Xuxa assassina! Não pode ser levada a sério!

- Bom, mas não inventei, está ai.

- É tanta bobagem que escrevem hoje em dia!

- Acabei de ver um vulto branco aqui no escritório, e tocaram a campainha...

- Vai ver é o espírito do Clodovil, procurando uma boneca da Xuxa para assassinar a Martha Suplicy! HA HA HA HA HA HA

- Vai saber...


Dúvidas...

País estranho

Não tive como evitar aquela viagem. Fui sozinho, desci do avião e já me dei conta de que aquela viagem seria única. As pessoas eram carrancudas, fechadas, distantes. Por um momento torci para ser barrado pelo oficial da imigração, mas sabia bem o motivo da minha viagem. Eu tinha uma missão a cumprir ali.

Fui recebido de forma... formal. É claro. Sentia como se estivesse incomodando, e acho que estava mesmo. Ao mesmo tempo, eu também me senti incomodado. O hotel era cinza, os funcionários antipáticos, a comida nem ruim, nem boa. Simplesmente descia. Insistiam em me oferecer bebidas alcólicas, mas eu sempre neguei.

Se eu bebesse, seria o lugar perfeito para encher a cara. Mas não bebo, não gosto de beber.

Os dias iam se passando, minha missão era cumprida de forma automática. Tudo era tão deprimente e sem graça, que eu não via o tempo passar. Havia momentos que eu perdia noção de quem eu era ou até mesmo de onde estava. Nem me dava conta se fazia sol ou se chovia.

Contava os dias sem muita noção do tempo. Olhava pela janela do hotel torcendo para poder voltar para casa, mas teria que permanecer ali por algum tempo. Eu sabia disso.

Internet? Não havia num raio de sabe Deus quantos quilômetros, e a preço de ouro. As chamadas telefônicas eram caríssimas. Eu estava em uma forma de retiro infernal. Mas fazia parte do plano, eu sempre soube disso.

Aprendi muito com aqueles dias, apesar de tudo, valeu. Só espero não ter que voltar naquele estranho país.