Blog do Henrique Fontes

Dedico esse espaço a relatos sobre minhas andanças cobrindo e produzindo concursos, outras paixões, como o futebol e o esporte em geral, ou quaisquer outros tópicos que me venham a cabeça. Espero que curta.

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Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

1.6.10

Room 66, Pocilga Hotel, New York City


Não fazia tanto frio ainda em Nova York, era outono. O hotel encontrado a um bom preço na internet era uma incógnita. Tomamos um táxi e claro, não podíamos esperar muita coisa: apesar de estar localizado a duas quadras do Central Park, era um prédio daqueles antigos, bem bizarros, que vemos em filmes de suspense ou até de terror.

Entramos. Entre pessoas estranhas chegando ou saindo, vimos logo à esquerda daquele corredor apertado cheirando a mofo a "recepção". Roberta mostrou o impresso com a nossa reserva, e aquele homem esquisito que em nenhum momento desviou os olhos do que estava lendo para nos receber, colocou as chaves no balcão e disse: "Room 66, elevator to your right".

Seriam apenas 2 noites naquele lugar. Sorte nossa que as malas eram minúsculas, se não jamais caberiam naquele elevador antigo. A cada andar, se via quem estava esperando o elevador retornar. Claro, somente pessoas sinistras. Ela me disse:

"Fon, imagina esse lugar a noite!".

Eu não queria imaginar.

Em ritmo de aventura, lá fomos nós para ver como seria o quarto. Era o último do corredor, de frente para a rua. Parecia que havíamos caminhado uma eternidade até chegar.

Entramos.

Duas camas separadas por um criado mudo, um armário podre de velho que não nos atrevemos a abrir, e na extremidade direita uma pia.

"Meu Deus, Fon, onde está o banheiro??"
"Não sei, Flé. Quando você fez a reserva dizia que tinha banheiro privativo?"
"Sei lá, isso é óbvio, não?"
"Parece que não, estamos em Nova York..."

Saímos porta a fora e lá estava ele, à nossa esquerda, no meio do corredor, com aspecto péssimo e um cheirinho desagradável... Com caras de nojo e desespero, simultaneamente exclamamos:

"Banheiro coletivo!!!!!"

"Será que todo esse andar usa somente este banheiro??", eu perguntei.
"Se usa, ferrou!", ela disse com os olhos arregalados. "São 70 apartamentos pelo menos" (era um exagero, porém, a impressão que dava era essa).

O hotel também não servia café-da-manhã, o que era na verdade o menor dos problemas. Nós não ousaríamos comer naquele lugar.

Voltamos ao quarto para inspecionar os lençóis. Ela deu um grito.

"Que noooojoooo, um cabelo na minha cama!"
"Na minha não achei nada de muito estranho..."

Ela dava saltinhos girando no próprio eixo gritando baixinho, "que nojo, que nojo, que nojo!!"...

"Mas ainda bem que sou prevenida....".

Tirou um lençol limpo da sua mala, e forrou a sua cama após retirar o fio de cabelo com um lenço e jogá-lo pela janela.

"Sua vaca! Por que não me sugeriu isso lá em Miami?"
"Ha, ha, ha, agora durma no seu lençol limpinho. Já parou pra pensar em quem dormiu ou fez coisinhas aí ontem?".

Eca! Não tinha parado pra pensar nisso.

Saímos. Era uma viagem de negócios + turismo, e como a reunião seria no dia seguinte, passeamos pelo Central Park, Empire State Building, estátua da Liberdade, Chinatown. Também passamos por onde 2 anos atrás as torres gêmeas haviam sido derrubadas. Havia um muro ao redor do lugar e muitos curiosos tentando ver através de frestas o que faziam lá dentro. Ao nosso lado, claro, tinha que aparecer um árabe que era a cara do Osama!

"Ele só pode estar hospedado no nosso hotel!", a Roberta brincou.

Na balsa que contornava a estátua da Liberdade, sentaram atrás de nós dois japoneses bem estranhos, um rapaz e uma moça. Começou assim, ele dizia algo em japonês energicamente....

"takara koka kako ba!!!" (hipotético)

E ela respondia gemendo...

"ammmm"

Outra vez....

"takara koka kako ba!!!!!!!"

E ela....

"ammmmmmmmm" (mais forte)

E assim sucessivamente.

Roberta olhou para trás discretamente e me disse:

"Ele está dedando ela!!"

A balsa lotada, e aquilo realmente estava acontecendo! É só com nós dois que acontece esse tipo de coisa, depois contamos, e ninguém acredita. Começamos a rir sem conseguir nos conter, mas o melhor foi na hora de descer da balsa. Os dois se grudaram em nós, a gente tentando correr no meio daquela multidão, e os dois atrás. E a Roberta dizia:

"Meu Deus Fon, vai mais rápido, já pensou ele coloca esse dedo podre em mim!!".

Quando vi a cara da Flé de desespero, perdi ainda mais as forças. E os dois nos empurravam e gemiam... "Ammmmmm.... ammmmm..... ammmmmm".

Comemos em um restaurante da Malásia em Chinatown, muito bom. Esses restaurantes são sempre melhores quando não estão localizados nos seus próprios países, podem crer.

Na Broadway, compramos uns ingressos baratos para a matinê de um musical que, sinceramente, nem me lembro qual. Acho que foi Rent, e foi um saco.

Mais um sinal de que o barato sai caro.

Falando nisso, de volta ao hotel.

"Flé, você vai tomar banho?"
"Será que lavam essa pocilga à noite?"
"Capaz mesmo, não devem lavar nem de dia"

Fui escovar os dentes na pia que ficava no quarto.

"Você vai ver o gosto que essa água tem, parece que vem direto da privada coletiva"
"Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaara pelo amor de Deus"

Caímos na gargalhada com a nossa tragédia.

Decidimos deixar o banho pra bem cedo, quando o banheiro supostamente estaria limpo.

"Você trouxe chinelos para tomar banho?", ela perguntou.
"Carai véi! Como você pensa nessas coisas?? Nem imaginei que não teríamos banheiro no quarto!"
"E daí? Mesmo se o banheiro fosse no quarto, você não teria nojo de pisar descalço nele??"

Ela tinha razão. Mas não, eu não havia trazido chinelos para tomar banho. A partir daquela viagem, sempre os levei. Sempre mesmo.

Para dormir, após lavar a boca com água de privada, fui me aproximando da cama, imaginando quem teria deitado ali, quando aquele lençol teria sido lavado pela última vez...

Roberta se matava de rir, embrulhada nos seus lençóis limpinhos e trazidos de casa.
A calefação estava ligada. Se os lençóis tinham aquele aspecto, imaginem os cobertores!

Quando eu ia me deitar, ela disse...

"Fon..."
"Que?"
"Imagina se ontem, nessa cama, estavam aqueles dois japoneses, ele dedando ela que nem na balsa"

Cacete! Mas tomei coragem e deitei. O cheiro era ruim. Que nojo.
Apagamos a luz e começamos a lembrar de tudo o que havia acontecido durante o dia. De repente, gritos. Não sabíamos se no hotel, ou em algum outro lugar naquela rua horrorosa e sombria. Ríamos de nervoso. Passos no corredor, gente bêbada, falando alto em vários idiomas.

Olhávamos as sombras e luzes por detrás das cortinas. Concluímos que eram bruxas voando nas suas vassouras, ou vampiros, e rindo das bobagens que dizíamos, pegamos no sono.

Acordei muito cedo na esperança de ser o primeiro a tomar banho. Fui saindo, de mansinho, mas quando olhei na direção do banheiro, vi uma japonesa entrando correndo e sorrindo. (não, não era a japonesa da balsa. Apesar de não parecer, essa é uma história verídica).

Voltei para o quarto e disse:

"Fle, acorda... Tentei tomar banho mas uma japonesa correu e entrou no banheiro primeiro"
"Humm... E como você sabe que ela não era coreana?", ela respondeu ainda acordando.

Sabe quando você fica dois segundos pensando... "Oi?". Whatever.

Quando japonesa (ou coreana, sei lá) saiu do banheiro e me viu, saiu correndo em direção ao seu quarto, que ficava na outra direação, e bateu a porta com força.

Porra, será que eu sou tão feio assim de manhã? Mas não era isso. Entro no banheiro, que poderia ter sido meu, limpinho, antes de qualquer um, e me deparo com aquilo... gotinhas de sangue traçavam uma trilha entre o boxe e a pia, onde o fluxo era maior.

Será que aquela chinesa porca estava menstruada, e saiu pingando???? Pior!! Deixou aquilo lá??? Aliás, mulheres quando ficam menstruadas pingam dessa forma???

Estava eu ali, diante daquela cena dantesca, sem chinelos, e havia apenas uma toalha, que estava na minha mão. O que fazer?

Tirei o sapato mas decidi que ficaria com as meias. Depois as jogaria no lixo. Me despedi também daquela camiseta velha que usava para dormir, e a joguei no chão, para limpar dentro do possível aquela nojeira. A situação da banheira encardida era ainda pior, mas o banho tinha que ser tomado. A água não cheirava bem, comecei a pensar em coisas boas, tomei banho o mais rápido que pude. Joguei as meias e a camiseta na latinha de lixo, me vesti e fui chamar a Roberta.

"Flé, corre. Com um só banho antes de nós, o banheiro já estava todo ensanguentado", e contei para ela.

"Que noooooooooooooooojo!!!! Será que era a japonesa das dedadas? Será que ela foi perfurada e sai vazando por aí????"

Rimos e muito, o que mais podíamos fazer?

Esta foi mais uma aventura de Flé e Fon, uma de tantas que mais parecem inventadas. Mas não são.

Acredite, se puder.

1 Comments:

Blogger  said...

Hahahaha!!! Muito engraçado, Henrique! Deve ter sido horrível ficar nesse hotel, mas são essas coisas que nos dão histórias pra contar pro resto da vida. E a tua companhia de viagem tb parece que é ótima! Bjs.

6:03 PM  

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