Almoço com os missólogos em universo paralelo!
William Prendiz de Jurado é um verdadeiro personagem no mundo dos concursos de beleza. É um senhor que mora na Califórnia e acompanha os concursos de beleza desde o tempo em que o Miss Universo acontecia em Long Beach, ou seja, desde os anos 50. Já foi o foco de matérias de diversos programas de televisão sobre o Miss Universo e o Miss Internacional. Na sua incrível coleção de objetos relacionados aos concursos de beleza encontram-se o troféu ganho pela primeira Miss Universo, em 1952, e a única fita de vídeo com o Miss Universo 1958 (a Miss Brasil era a lendária Adalgisa Colombo) na íntegra (detalhe: ele não admite fazer cópias para ninguém).
Em 2001 William resolveu oferecer um almoço aos grandes "missólogos" de todo o mundo em um dos melhores restaurantes de San Juan, Porto Rico, poucos dias antes da final do Miss Universo daquele ano. Eu fui um dos convidados (apesar de odiar o termo "missólogo" por dois motivos: 1) não me considero um; 2) este termo na verdade não existe - ou seja, você acaba sendo considerado um destaque em algo absolutamente abstrato).
Recebi o convite para o tal almoço ainda em Miami, onde residia. Tudo foi muito formal, com o devido "glamour" (outra palavra que me causa medo no "planeta miss") dos tempos áureos dos concursos de beleza.
Quando chegou o grande dia, uns amigos de Porto Rico me deixaram no restaurante (localizado na cidade velha, um lugar muito bonito) e encontrei William e os outros 11 convidados para a ceia da missologia. A cena daria um bom quadro: o Senhor das Misses e seus 12 discípulos. A grande maioria era latina: venezuelanos, portorriquenhos, um panamenho, outro brasiliero (o baiano Roberto Macedo, este sim grande conhecedor da história dos concursos) e o meu amigo Greg (norte-americano, também residente em Miami).
As conversas beiravam o inacreditável para quem não faz parte deste universo paralelo: injustiça no Miss Universo 1969, o tombo da Miss Bélgica 1979, o decote do vestido da Miss Peru sei lá de quando, e é claro, as favoritas ao Miss Universo 2001, que aconteceria em poucos dias. Um deles se gabava da sua última aquisição: o sutiã (ou calcinha) da Miss sei lá o que de sabe Deus quando.
Então chegou a hora do desafio! 20 perguntas e um prêmio: a revista oficial do Mis Universo 1958 (quando anunciado foi uma gritaria, mãos na boca, olhos arregalados. Parecia que seria uma Ferrari ou uma viagem de volta ao mundo). Foi quando William começou a destribuir os questionários - "não virem até eu entregar o último e dizer já!!" - tudo isso, não se esqueçam, em um dos restaurantes mais chiques de San Juan. "JÁ!!!"
Se não me engano o Roberto levou o prêmio com 16 respostas corretas. Eu e o Greg ficamos em segundo, com 12 corretas cada (não, juro que não digo isso com orgulho). Acabado o "desafio", fui ao banheiro, e no caminho encontrei um missólogo portorriquenho do grupo no celular dizendo: "Roberto Macedo ganhou e eu fui o segundo colocado!!". Quando a bicha me viu deu um grito e ficou pálida. "Aiiiiii... Perdona, es que sabes, soy de Puerto Rico y esto va para el periodico...". Eu respondi: "Pode ficar com a medalha de prata, nem grile, mas só me responda uma coisa: isso é notícia de jornal aqui????".
Mal sabia eu... Voltando do banheiro encontrei repórteres, fotógrafos e um camera man! Era a cobertura do almoço dos missólogos, ao vivo, para toda a ilha. Hoje eu sei que em Porto Rico a prisão de ventre de uma miss tem mais destaque na imprensa que os efeitos do tsunami ou a queda das Torres Gêmeas, mas naquele momento confesso que aquele interesse todo por aquele almoço me pareceu no mínimo bizarro.
Lembro que fui entrevistado por um repórter que me perguntou o que eu achava daquela reunião. Depois de um momento de silêncio, olhei para a câmera e disse: "Es algo unico, inolvidable". Não menti.
Logo depois William começou a bater com uma colherzinha em uma taça de cristal pedindo que todos tomassem seus lugares à mesa. Já com todos sentados, ele agradeceu nossa presença e pediu que déssemos as mãos. Pensei: "será que iremos rezar em rede nacional?". Antes fosse. O que veio a seguir foi novamente surreal: ele começou a ler o credo do Miss Universo, em inglês, com direito a tradução em espanhol.
Explico: até os anos 80 as Misses Universo liam o credo do concurso durante a sua despedida, momentos antes de coroarem suas sucessoras. Então ele começou...
"We, women of the Universe...", seguido da tradução (gritada) do missólogo venezuelano: "Nosoooooootras, mujeeeeres del Univeeeeerso..."
Eu olhei para a cara do Greg e ele estava em estado de choque, com a boca aberta, petrificado. Eu já estava quase debaixo da mesa, e com aquela câmera registrando tudo e os outros clientes do restaurante observando aquele grupo de alienígenas do qual eu fazia parte em uma espécie de "oração gay", comecei a orar de verdade: "Deus, tenha piedade de mim e faça com que o chão se abra debaixo dos meus pés e me engula vivo!". Ele não me ouviu e aquele credo parece ter durado uma eternidade.
Alguns deles tinham lágrimas nos olhos, e repetiam as palavras das misses de décadas atrás como evangélicos fervorosos. A missologia é uma religião de fanáticos!
A imprensa foi embora (amém!) e os pratos foram servidos. Comemos em meio a discussões sobre as injustiças de concursos pré-históricos como se aquele passado, irrelevante para 99.999% da humanidade, pudesse ser mudado. Passado o choque causado pelas estranhesas do Miss Universo Paralelo, acabei me divertindo e sai de lá com muita história para contar (vejam só, vocês ganharam com o meu mico).
A lenda viva William Prendiz continua firme e forte, é um bom (e excêntrico) amigo que possivelmente virá ao Mis Brasil Mundo 2006. Quem viver, verá!
Em 2001 William resolveu oferecer um almoço aos grandes "missólogos" de todo o mundo em um dos melhores restaurantes de San Juan, Porto Rico, poucos dias antes da final do Miss Universo daquele ano. Eu fui um dos convidados (apesar de odiar o termo "missólogo" por dois motivos: 1) não me considero um; 2) este termo na verdade não existe - ou seja, você acaba sendo considerado um destaque em algo absolutamente abstrato).
Recebi o convite para o tal almoço ainda em Miami, onde residia. Tudo foi muito formal, com o devido "glamour" (outra palavra que me causa medo no "planeta miss") dos tempos áureos dos concursos de beleza.
Quando chegou o grande dia, uns amigos de Porto Rico me deixaram no restaurante (localizado na cidade velha, um lugar muito bonito) e encontrei William e os outros 11 convidados para a ceia da missologia. A cena daria um bom quadro: o Senhor das Misses e seus 12 discípulos. A grande maioria era latina: venezuelanos, portorriquenhos, um panamenho, outro brasiliero (o baiano Roberto Macedo, este sim grande conhecedor da história dos concursos) e o meu amigo Greg (norte-americano, também residente em Miami).
As conversas beiravam o inacreditável para quem não faz parte deste universo paralelo: injustiça no Miss Universo 1969, o tombo da Miss Bélgica 1979, o decote do vestido da Miss Peru sei lá de quando, e é claro, as favoritas ao Miss Universo 2001, que aconteceria em poucos dias. Um deles se gabava da sua última aquisição: o sutiã (ou calcinha) da Miss sei lá o que de sabe Deus quando.
Então chegou a hora do desafio! 20 perguntas e um prêmio: a revista oficial do Mis Universo 1958 (quando anunciado foi uma gritaria, mãos na boca, olhos arregalados. Parecia que seria uma Ferrari ou uma viagem de volta ao mundo). Foi quando William começou a destribuir os questionários - "não virem até eu entregar o último e dizer já!!" - tudo isso, não se esqueçam, em um dos restaurantes mais chiques de San Juan. "JÁ!!!"
Se não me engano o Roberto levou o prêmio com 16 respostas corretas. Eu e o Greg ficamos em segundo, com 12 corretas cada (não, juro que não digo isso com orgulho). Acabado o "desafio", fui ao banheiro, e no caminho encontrei um missólogo portorriquenho do grupo no celular dizendo: "Roberto Macedo ganhou e eu fui o segundo colocado!!". Quando a bicha me viu deu um grito e ficou pálida. "Aiiiiii... Perdona, es que sabes, soy de Puerto Rico y esto va para el periodico...". Eu respondi: "Pode ficar com a medalha de prata, nem grile, mas só me responda uma coisa: isso é notícia de jornal aqui????".
Mal sabia eu... Voltando do banheiro encontrei repórteres, fotógrafos e um camera man! Era a cobertura do almoço dos missólogos, ao vivo, para toda a ilha. Hoje eu sei que em Porto Rico a prisão de ventre de uma miss tem mais destaque na imprensa que os efeitos do tsunami ou a queda das Torres Gêmeas, mas naquele momento confesso que aquele interesse todo por aquele almoço me pareceu no mínimo bizarro.
Lembro que fui entrevistado por um repórter que me perguntou o que eu achava daquela reunião. Depois de um momento de silêncio, olhei para a câmera e disse: "Es algo unico, inolvidable". Não menti.
Logo depois William começou a bater com uma colherzinha em uma taça de cristal pedindo que todos tomassem seus lugares à mesa. Já com todos sentados, ele agradeceu nossa presença e pediu que déssemos as mãos. Pensei: "será que iremos rezar em rede nacional?". Antes fosse. O que veio a seguir foi novamente surreal: ele começou a ler o credo do Miss Universo, em inglês, com direito a tradução em espanhol.
Explico: até os anos 80 as Misses Universo liam o credo do concurso durante a sua despedida, momentos antes de coroarem suas sucessoras. Então ele começou...
"We, women of the Universe...", seguido da tradução (gritada) do missólogo venezuelano: "Nosoooooootras, mujeeeeres del Univeeeeerso..."
Eu olhei para a cara do Greg e ele estava em estado de choque, com a boca aberta, petrificado. Eu já estava quase debaixo da mesa, e com aquela câmera registrando tudo e os outros clientes do restaurante observando aquele grupo de alienígenas do qual eu fazia parte em uma espécie de "oração gay", comecei a orar de verdade: "Deus, tenha piedade de mim e faça com que o chão se abra debaixo dos meus pés e me engula vivo!". Ele não me ouviu e aquele credo parece ter durado uma eternidade.
Alguns deles tinham lágrimas nos olhos, e repetiam as palavras das misses de décadas atrás como evangélicos fervorosos. A missologia é uma religião de fanáticos!
A imprensa foi embora (amém!) e os pratos foram servidos. Comemos em meio a discussões sobre as injustiças de concursos pré-históricos como se aquele passado, irrelevante para 99.999% da humanidade, pudesse ser mudado. Passado o choque causado pelas estranhesas do Miss Universo Paralelo, acabei me divertindo e sai de lá com muita história para contar (vejam só, vocês ganharam com o meu mico).
A lenda viva William Prendiz continua firme e forte, é um bom (e excêntrico) amigo que possivelmente virá ao Mis Brasil Mundo 2006. Quem viver, verá!