Blog do Henrique Fontes

Dedico esse espaço a relatos sobre minhas andanças cobrindo e produzindo concursos, outras paixões, como o futebol e o esporte em geral, ou quaisquer outros tópicos que me venham a cabeça. Espero que curta.

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30.3.08

O anúncio na ilha

O que eu mais gosto na ilha é o farol. Não que o resto dela não me agrade, muito pelo contrário. Apesar do terreno árido e cheio de pedras, inclusive nas praias, aquele lugar tem algo de especial e mágico, como nenhum outro. O cheiro do vento da ilha é único, causa aquela sensação no baixo ventre de prazer e plenitude.
O anúncio tem que ser feito lá primeiramente. Depois disso fica mais fácil. Pelo menos eu espero.

Saio de casa na minha lambreta velha, o coração entristecido. São 4:15 da tarde. O clima é quente, mas agradável. Bem mais agradável que ter que pensar em como fazer o anúncio. As boas lembranças são inevitáveis, como o momento do primeiro encontro e a conexão imediata, que parecia significar o começo de uma amizade eterna. As risadas, a eventual telepatia, os momentos difíceis enfrentados juntos, tudo isso vem à cabeça nessa hora.

Chego à praia do farol, estaciono, e intimamente rezo para que tudo isso seja um sonho. Rezo para tudo ter caminhado da melhor forma possível. Bobagem. Não tem oração que mude o passado.

Momentos como esses estão entre os mais indesejados das nossas vidas, mas eles existem, e nos fazem crescer, enfrentar a realidade e os fatos. Porém, não deixam de ser extremamente dolorosos. Por que temos que crescer a amadurecer através da dor?

Lá está ela, cabelos ao vento, semblante visivelmente abatido. Talvez ela saiba o que vem por aí. Faço o anúncio, da forma mais amena possível. Há situações que poderiam ser expostas, mas para que humilhar uma pessoa quando a maior dificuldade que nós seres humanos enfrentamos é reconhecer nossos próprios erros? Não reconheceria, e a sua mágoa seria maior.

As lágrimas são inevitáveis, para os dois. O sol se põe, ela desaparece no horizonte.

O farol acende e já é noite. Tinha que ser feito. Sento na areia cheia de pedras, os pés próximos ao mar. Sinto melancolia e até saudades, mas sei que em algumas horas o sol voltará a raiar, para mim, para ela, para todo universo.

O barco que a leva da ilha enfrenta agora a escuridão e o frio, mas apenas por algum tempo. Se ela tiver sabedoria, saberá escolher corretamente o porto onde irá descer, e lá começará uma nova história.

O farol parece me consolar. Me despido dele e retorno para casa. Agora vem a segunda parte.