Blog do Henrique Fontes

Dedico esse espaço a relatos sobre minhas andanças cobrindo e produzindo concursos, outras paixões, como o futebol e o esporte em geral, ou quaisquer outros tópicos que me venham a cabeça. Espero que curta.

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26.2.07

Reflexos da vida nos paredões do BBB

Eu tinha dois anos de idade quando minha mãe era instrumentista cirúrgica. Um dia ela chegou em casa arrasada, havia acabado de abandonar o trabalho. Segundo minha mãe, o cirurgião não fez o que podia para salvar a vida de um paciente, literalmente "lavou as mãos" por algum motivo estúpido que agora não me vem à memória. Anos antes, ainda no Rio Grande do Sul e antes de casar-se, faltando uma prova para se formar como jornalista, ela fez um escândalo e saiu andando da sala de aula por que a cola havia sido liberada na prova final. Como consequência, apesar de 4 ou 5 anos de estudos quase concluídos com brilhantismo, Dona Maria da Graça só veio a ter em mãos o diploma uma década depois, com o curso concluído na USP.

Como jornalista e profissional do Marketing, ela conquistou posições e salários invejáveis em um mercado que nos anos 80 ainda era dominado pelos homens. Porém, virava e mexia, fosse para defender um colega ou protestar contra aquilo que ela acreditava não ser certo, minha mãe não pensava duas vezes antes de pedir demissão ou até mesmo ser demitida por seus atos impensados.

Sem um filtro entre o cérebro e a boca, ela sempre defendeu a sua verdade, doesse a quem doesse.

Profissionalmente meu pai sempre foi mais racional. Talvez sua mente não fosse tão brilhante quanto a da minha mãe (a de poucas pessoas é), porém, com seu carisma inquestionável e jogo de cintura, ele conquistou muito do que se propôs a conquistar e nos proporcionou uma vida confortável. Sempre estudamos nos melhores colégios, tivemos os melhores médicos, as melhores roupas, carro do ano, viajávamos nas férias.

No entanto, nunca fomos ricos e a razão é simples: tudo o que meu pai nos proporcionou foi conquistado com muito suor, sabedoria e acima de tudo, INTEGRIDADE.

Seja pela genética ou pela educação que recebi, tenho muito de ambos. Meus irmãos também. Às vezes o que ao meu ver é interpretado como injusto, faz com que eu reaja imediatamente, sem medir as consequências do meu ato impensado (mãe). Porém, por mais que eu cometa erros, JAMAIS me falta a verdade e a integridade, qualidades inquestionáveis do meu pai.

O Big Brother, já na sua sétima versão, pode ser para muitos uma perda de tempo. Ao contrário disso, acredito que quem inventou esta fórmula é um verdadeiro gênio que, de uma forma ou de outra, e tomadas as devidas proporções, fez com que nós, os telespectadores, conseguíssemos ver neste jogo um reflexo do que vemos no jogo 'aqui de fora', no nosso dia a dia.

Nos identificamos com algumas personagens, odiamos a outras e ainda somos indiferentes com outras. Existem os 'bons', que nunca são 100% 'bons' (como só acontece nas novelas) e os 'maus', que também nunca são 100% 'maus'. De acordo com os pricípios de cada um, eles atuam dentro das suas realidades e do que é certo para eles.

Assim acontece na vida real, seja em casa, na escola, no ambiente de trabalhou ou nos círculos de amizade.

Ontem foi formado um paredão que me chocou (certamente não só a mim). Não que Diego e Ísis sejam dois santos, longe disso. Porém, ambos foram vítimas de um jogo mesquinho, hipócrita, que tem como cabeça o Alberto, que no começo era uma das figuras mais divertidas da casa. Também como na vida real, na casa do BBB ninguém consegue segurar uma mentira por muito tempo. Eventualmente a máscara cai.

O que é curioso nisso tudo é que eu, particularmente, vejo muito da minha mãe nas atitudes da Ísis, uma pessoa correta, mas que às vezes se perde na própria falta de controle em certas situações, e do meu pai no Diego, com seu carisma e integridade, porém também esquentado quando a sujeira toma proporções assustadoras.

Em outras palavras, me identifico com ambos, vejo em mim muitas das qualidades de defeitos dos dois.

Acho que o Diego permanecerá na casa. Nesse jogo da vida, não só do BBB, o sangue frio (ou morno, como no caso dele) prevalece sobre emoção.

Quanto aos demais, não me surpreendi com a "troca de camisa" da Fany. Quantos "amigos" não mudam de time quando a coisa ferve para o nosso lado? Nem que ela se sentisse ameaçada, não poderia ter lhe faltado neste momento algo muito importante e valorizado nos relacionamentos humanos: a lealdade.

O Alberto joga com o ego ferido, não se conforma de ter sido votado pelo ex-trio e quer vingança a todo custo. Ficou tão cego a ponto de não conseguir enxergar mais adiante. Sabe no jogo de xadrez, quando sem pensar, na ânsia, matamos a rainha com um peão achando que realizamos uma jogada de mestres e, tendo desprotegido o rei, levamos um xeque-mate logo em seguida? Foi exatamente o que ele fez. Estrategista sim, mas dos baratos e inconsequentes.

Airton e Carol são repugnantes, nem merecem comentários. Pessoas fracas de espírito e sem caráter que foram facilmente ingrupidos pelo "cowboy". Bruna é outra coitada. Anally que a princípio parecia ser uma mulher interessante e esclarecida, se deixou levar pelo jogo sujo. É aquela coisa: a verdadeira natureza do ser humano desperta em algum momento. A ocasião NÃO FAZ o ladrão quando uma pessoa não tem a tendência a roubar.

Gosto da Flávia. A primeira impressão foi a da loira burra. Confesso, preconceito puro. Hoje a vejo como, talvez, a pessoa mais sensata dentro da casa. Seu modo de pensar e de se expressar são coerentes. Gosto muito dela e acredito que, se não for jogada num paredão contra o Alemão nas próximas semanas, deverá disputar o título com ele.

O foda é que quem tem estrela nessa vida atrai inveja, pensamentos negativos, calúnias. O desafio dessas pessoas é saber engolir seco quando sempre que se pode e atacar apenas quando necessário.

Agora o país inteiro aguarda com ansiedade testemunhar como quem conseguir sobreviver a este paredão irá se comportar daqui pra frente. Se esta pessoa não perder a cabeça, deverá ganhar.

Em tempo: vemos nesses reality shows o quanto a maioria dos telespectadores são, ou querem ser, corretos. Os 'bandidos' são derrotados cedo ou tarde. Pena que no jogo real, quando é dada a oportunidade, muitas pessoas acabam descobrindo em si Diegos, Airtons, Carols ou até Fanis... É primordial para o Brasil que todos atuemos aqui fora como os jogadores da casa que tanto defendemos, e não apenas votar para salvá-los e vibrar com a vitória deles.

No país do oportunismo, mais do que querer ser correto, é preciso ser correto. Este é o nosso grande desafio.