Blog do Henrique Fontes

Dedico esse espaço a relatos sobre minhas andanças cobrindo e produzindo concursos, outras paixões, como o futebol e o esporte em geral, ou quaisquer outros tópicos que me venham a cabeça. Espero que curta.

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3.9.09

A China e o Miss Tourism Queen 2009


Passaram-se os Jogos de Pequim, e a censura voltou com força total à China: nada de blogs, twitter, Facebook, e por aí vai. Nas quase três semanas que estive por lá, acabei não podendo atualizar o blog diariamente, então terei que falar sobre o que ficou de mais forte na memória. Sem nenhuma ordem de classificação, estas são as minhas memórias dessa viagem:

* Duas candidatas tão diferentes, Vivian representando o Brasil, Karine representando Fernando de Noronha. Vivian é a miss perfeita, impecável, profissional e admirada por todos. Fez tudo certo e merecia ganhar, mas pelo estranho gosto chinês, ficou em segundo, o que pode ser considerado uma vitória, afinal, eram quase 100 candidatas. Karine é a "Miss Alternativa". Foge do óbvio em vários sentidos, e eu gosto muito disso. Ela surpreende, é eclética, imprevisível. Marcou presença, e não somente pelo terceiro lugar dentre as ilhas de todo o mundo. As duas foram magníficas e razões de orgulho.

* Todos os dias às 7 da matina estávamos no ônibus, com destino a algum lugar novo. O pessoal da imprensa internacional era, no geral, animado e divertido. Demos boas risadas, especulamos sobre os resultados das provas preliminares e final (sempre!), mas ninguém marcou tanto quanto a "Fófis"! Só o Rami para entender como nos divertimos por causa dessa jornalista equatoriana que só falava espanhol e estava mais perdida que qualquer outra coisa! Em cada cidade que chegávamos, a gordinha virava para trás e nos perguntava: "Oye, esto es 'Changai'??". Ela achou que o concurso aconteceria em Xangai, e não se conformava de não chegar lá nunca.

A melhor da Fófis: em uma visista a uma fábrica patrocinadora do evento, chegamos a uma loja onde 5 velhinhos 'pra lá de Changai', que poderiam ser pais da Hebe (bom, nem tanto), estavam sentados bem no meio da sala. Não faziam nada, estavam sentadinhos, olhares perdidos, pareciam nem saber onde estavam. A cena bizarra foi explicada mais tarde: parece que a presença dos idosos, na crença chinesa, atrai dinheiro e bons negócios. Os coitadinhos são uma espécie de amuleto.

Naquele momento, não sabíamos disso, e eis que chega a Fófis, pretuberante, com a cara de mau humor que lhe era peculiar. Então ela pergunta ao Rami: "Oye, que hacen estos viejos ahi?". O Rami, espirituoso e sem deixar que seu humor negro falhasse, respondeu bem sério: "Bueno, en China cuando los ancianos llegan a una cierta edad, sus familias los venden...". Ela fez uma cara de quem não gostou, observou a cena (no seu total, digna dos melhores filmes do Almodovar!), e quando pensávamos que ia se mostrar indignada ou ao menos incrédula, solta essa:

"Oye! Y quien va querer comprar 'esto'????".

* Existia uma chinesinha, a Ariel, que coordenava o nosso ônibus. Era uma querida, parecia de uma fragilidade incrível, sempre doce, mas quebrava cada pepino que dava pena. Em certa ocasião, a fofa equatoriana (a nossa Fófis) não estava à vista, foi durante um almoço. Ariel chega na nossa mesa, e sem maldade, talvez abusando da sua ingenuidade, e nos diz no seu inglês quebrado: "Hi e-vli-one... Have you seen the biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiig girl flom Ecuado?". Durante o 'biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiig' ela fez um esforço para com as mãos fazer um globo gigante! Não teve como segurar, caímos na gargalhada! A chinesinha ficou vermelha e começou a bater na própria boca. "Só-li.... I don know her name...".

* Dessa vez teve dias que enjoei da comida e do tempero chinês. Minhas melhores descobertas culinárias foram o mangostão, fruta deliciosa que eu não conhecia, e o melhor picolé que já experimentei na vida, um de morango envolvido por uma fina camada de gelo. Não dá para explicar como era bom, e custava o equivalente a menos de $0.30 de real!

* Falando em picolé, teve a parada em uma das viagens de ônibus que a Miss Perú e eu compramos um de chocolate, e começamos a comer. Na segunda mordida, notamos que o recheio não tinha gosto de chocolate, era estranho... A peruana era uma figura, tinha senso de humor parecido ao meu, também demos muitas risadas durante aqueles dias, e juntos descobrimos que se tratava de um picolé recheado com feijão! Cuspimos aquilo ao mesmo tempo, o povo que estava por perto se divertiu. Uma chaperona indignada perguntava: "Pq??? No país de vocês não tem picolé de feijão???".

* Não sei o que me deu durante a prova da eleição do vestido mais bonito. Estava no júri, as misses acabavam de se apresentar. De repente entra uma cantora chinesa e começa a berrar. Ela tinha a vóz mais horrível e estridente que já ouvi na vida. Olho pra trás, e vejo os jornalistas estrangeiros tapando os ouvidos e aflitos. Olho pra frente e vejo os chineses apreciando aquilo como se fosse a coisa mais normal do mundo. Só sei que aquilo me causou um acesso de riso vergonhoso e incontrolável. Eu tentava disfarçar mas não tinha como, eu chegava a sacudir e as lágrimas corriam! E a mulher gritando, por que aquilo não era cantar nem aqui, nem na China (bom, talvez na China fosse). O evento estava sendo televisionado ao vivo, e de repente me vejo no telão naquela situação constrangedora, e a partir daquele momento, todos os olhares em mim. Ainda assim, não podia parar de rir. Foi surreal, mas tenho o sério problema de não conseguir conter a risada. Péssimo...

* Além da Miss Perú, outras misses marcaram essas 3 semanas. Com as Misses Sérvia e Montenegro, sempre rolavam altos papos. A Miss Sérvia sempre me fazia lembrar a dramática final da Liga Mundia de vôlei que os brasileiros derrotaram os sérvios no mês passado, em Belgrado. "I cried, you know?", ela me disse umas tantas vezes. Tinha a "federação latina", com direito a presidente, Miss Venezuela, e vice, Cuba. Chavez e Fidel se orgulhariam dessas duas! Como fofocavam, o foco principal eram as russas. Aliás, uma das russas era uma espécie de espiã da 'máfia russa', ela falava espanhol e levava tudo o que as latinas diziam às outras candidatas da sua turma. O conflito já era famoso por lá!

A Miss Vietnã era estranha, chegamos a pensar que fosse travesti. Mas não era não. Era só estranha mesmo...

Tinha a Miss Estônia, que parecia saída direto dos anos 70: uma loira linda, de cabelos longos, sorriso espontâneo, sempre de bem com a vida. Lamentei demais a sua não classificação, ela merecia muito mais. Tinha o charme da Miss Martinica, com a sua cabeleira Globetrotters, motivo de piadas constante. O Kevin, chinês da organização, brincava: "Talvez ela não precise de travesseiro...". A Miss Armênia, com cara de madrasta de novela mexicana, que sempre vinha conversar e trazer suas teorias da conspiração. Era no mínimo interessante bater papo com ela.

A Miss Phuket, ilha tailandesa representada no MTQI pela primeira vez, era uma 'miss profissional'. Seu guarda-roupa era chamativo, falava mandarim, era muito expressiva. Exótica e muito bonita, chamava a atenção por onde passava. Fiquei feliz com a sua merecida classificação.

Tinha a 'mãe da Barbie', ou a 'Barbie aos 50', a Miss Lituânia. Fazia de tudo para chamar a atenção, como por exemplo, quando jurou não ter dublado uma música da Celine Dion na prova de talentos (isso rendeu...), ou quando atirou os sapatos longe durante o 'Miss Disco', fez uma estrela, e mostrou a minúscula calcinha para 15 mil chineses que ficaram com os olhos bem abertos!

A Miss Uzbequistão era outra que gostava de chamar a atenção de formas bem peculiares. No Miss Bikini, ela chegou na ponta da passarela, fez a sua melhor expressão 'venha me comer', deu três tapas na própria cara com força (!!!!), e assoprou um beijo para o público (mais uma vez chocado, aliás, quem não ficaria). Quando falta beleza, vale tudo para virar notícia...

Por fim, não poderia faltar a russa, a eventual vencedora. Era conhecida entre as candidatas pela sua antipatia e fedor. Isso mesmo, ela não usava desodorante, ou não tomava banho. Achei que fosse fofoca ou maldade feminina, mas nada... A primeira vez que senti ela estava atrás de mim. Achei que fosse o fétido aroma dos chineses fritando escorpião (sério, não tem cheiro mais podre), mas olhei pra trás, e era ela, naquele momento ainda a futura Miss Tourism Queen Ineternational...

Quando a Karine (Noronha) chegou, tentou puxar papo com ela. Recebeu um olhar frio e foi ignorada. Inconformada, Karine, chamou o Fábio Nunes (nosso fotógrafo e amigo) e foi atrás da russa para pedir uma foto. A moça olhou para a nossa miss com cara de nojo, e saiu andando, se recusou a tirar a foto! Talk about 'World Peace'!

Quando ela ganhou, Karine ficou inconformada: "Ela NÃOOOOOOOOO!! Qualquer outra, mas a russa não!!!!". E este foi o "general feeling"...

* A volta foi complicada. Desde a saída de Zhengzhou, foram mais de 48 horas até chegar em casa. Até roupas e mala tivemos que jogar fora para não pagar o absurdo de excesso de bagagem.

No geral, foi mais uma viagem interessante e certamente inesquecível, mas estou feliz por estar de volta. E vamos ver como os chineses se dão com a sua rainha russa. Boa sorte para eles!

Cobertura do Miss Tourism Queen 2009: http://www.globalbeauties.com/tqi/2009/