1982: A Copa que mais me marcou
O Brasil não foi campeão, mas por diversas razões a Copa do Mundo que mais me marcou foi a de 1982. A maior parte das lembranças daqueles dias são tão fortes que me dá a impressão que tudo aconteceu ontem.
Como era de costume nas férias de julho, fui passar alguns dias com os meus avós no Rio de Janeiro. A cidade estava toda enfeitada de verde e amarelo e nas paredes das ruas havia desenhos do Naranjito (uma laranjinha que foi o mascote da Copa de 82, que aconteceu na Espanha), do Pacheco (torcedor queixudo vestindo boné que representava o torcedor brasileiro) e, como não podia faltar, do nosso ilustre Zé Carioca.
O Rio de Janeiro era outra cidade naqueles tempos. A cidade não era nenhuma Xangri-lá, enfrentava os problemas cotidianos de qualquer outra cidade grande, porém ainda não ouvíamos falar em traficantes, duelos frequentes entre policiais e bandidos, inúmeros crimes e sequestros. Eu pelo menos não ouvia.
Meus avós moravam no morro de São Carlos, Estácio de Sá, em um casarão construído pelo meu avô e meu bisavô. Subíamos e descíamos aquela ladeira sem a menor preocupação. Hoje, a casa que acabou sendo incrivelmente desvalorizada e vendida a preço de banana devido à presença de bandidos que mais tarde se apoderaram da rua, fica em frente a uma "boca de fumo". Só conseguimos chegar lá através das maravilhosas recordações de tempos que ficaram no passado.
De volta a este passado, uma certa manhã acordei e pedi ao meu avô que me levasse em um tour pela cidade para que eu pudesse fotografar as igrejas do Rio de Janeiro. Saímos cedo e entre passeios de ônibus, metrô e longas caminhadas, conheci um Rio de Janeiro boêmio que era novo e fascinante para mim e que jamais deixou a minha memória. Me recordo das fotos tiradas nas igrejas da Penha e da Candelária e de papéis picados espalhados por toda a cidade, vestígios da comemoração da última vitória do sensacional time de Telê Santana, contra a Argentina.
O passeio terminou da seguinte forma: por volta das 5 horas da tarde, descemos em uma estação do metrô e meu avô apontou para a última igreja que iríamos visitar. Não tenho certeza de qual igreja se tratava, porém ela estava longe daquele ponto e eu, exausto, respondi: "Legal vô, deixa eu fotografar ela daqui mesmo e depois vamos para casa né?". Com um sorriso, ele passou a mão na minha cabeça e concordou.
Eu tinha 10 anos, meu avô por volta de 62, e o velho Jayme me deu uma canseira naquele dia!
Se o passeio acabou ali, a Copa ainda continuava para o Brasil, pelo menos por mais uma partida...
O Brasil havia encantado o mundo com vitórias convincentes sobre a Nova Zelândia, Escócia, União Soviética e Argentina e era tido como franco favorito ao título. O talento de Zico, Sócrates, Falcão e Júnior, aliados às bombas de Éder, enchiam os olhos de quem os visse em campo. Já a Itália, passou pele primeira fase "raspando", com três míseros empates, inclusive contra equipes sem expressão na época, como Camarões e Perú.
Porém, como diria o poeta, futebol se ganha dentro do campo, e naquela fatídica tarde de domingo a Itália e Paolo Rossi, atacante que até então não havia convertido sequer um gol na Copa, desencantaram.
O Brasil precisava de um empate para prosseguir na competição, resultado que consegiu buscar duas vezes durante a partida, já que a Itália fez 1X0 e 2X1, sempre com Paolo Rossi... Falcão, com um magistral chute da entrada da área, fez 2X2 faltando 22 minutos para o encerramento da partida. Seis minutos depois, ele, Paolo Rossi, lacrava o que para nós brasileiros ficou conhecida como a "tragédia do Sarriá".
Assisti aquele triste e emocionante espetáculo na casa da então namorada do meu tio Paulo, com meus avós e primos. Ao som do apito final, meu tio estendeu a mão direita a mim e ao Rodrigo (meu primo que fazia bico) dizendo: "É isso amigos, quem sabe em 2006?".
O futebol arte do Brasil amargava um penoso quinto lugar, enquanto a Itália de Paolo Rossi estava destinada ao tri campeonato, tendo desbancado posteriormente a Polônia de Boniek (que jogou a semifinal desfalcada do seu maior craque) e a Alemanha de Rummenigge.
Foi a primeira Copa do Mundo que acompanhei, já que a minha paixão pelo futebol havia nascido um ano antes, com a conquista do mundial de clubes pelo meu amado Grêmio. Não me fogem da memória a nossa torcida pelos surpreendentes Camarões e Argélia (que ganhou da Alemanha por 2X1 na primeira rodada da primeira fase), da irritante linha de impedimento da URSS, da incrível goleada da Hungria sobre El Salvador por 10X1, do sheik do Kwait que desceu da tribuna de honra e fez o juíz anular um gol da França contra a sua seleção (que acabou perdendo de goleada mesmo sem o tal controvertido gol anulado - 1X4), e do nosso carrasco, Paolo Rossi da Itália.
Também lembro com carinho e nostalgia daqueles dias no Rio de Janeiro, principalmente do meu avô Jayme e meu tio Paulo, duas das pessoas mais espetaculares que já conheci, e que infelizmente já partiram para uma melhor.
Tempos de Copa do Mundo são especiais, cada Copa do Mundo tráz memórias que ficam para sempre registradas. Para mim 1982 é insuperável e absolutamente inesquecível. Saudades.
1 Comments:
bom comeco
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